quarta-feira, fevereiro 27, 2013

Um gavião no meu quintal


Hoje tinha tudo para ser só mais uma terça-feira como outra qualquer: chata, tediosa e sem muitas novidades. Comecei o dia não muito bem. Depois de virar a madrugada em claro passando mal com crise de estômago, acordei por volta do meio-dia me prometendo fazer meus freelas e tentar dormir um pouco pra descansar da madrugada dolorida. Mas um visitante inesperado mudou toda a rotina do meu tedioso dia.

Almocei e fui para meu quarto/escritório separar pautas e organizar pesquisas para os freelas do resto da semana. Minha mãe tinha ido na casa da minha tia para fazer enfeites de aniversário da minha priminha e eu, com meu cachorro, fomos para o quarto. Comecei a trabalhar quietinha no meu canto, quando por volta das 16h comecei a ouvir um barulho muito estranho. Parecia um choro de bebê ao longe e foi ficando alto. Quando deu 16h30 o grunhido era ensurdecedor. Parecia estar mais perto e fui então verificar o que era.

Saindo do meu quarto (que fica do lado de fora da casa) olhei para os cantos e não vi nada que poderia fazer aquele barulho. Meu canário estava acuado no canto da gaiola assustado e eu não entendi o porquê. Me dirigi à cozinha e fui pegar uns biscoitos para colocar um doce na boca. Tomei um gole de suco e fui me refrescar no chuveiro que tem no quintal (nesse verão só me molhando o tempo todo pra ficar fresca). Quando cheguei perto do chuveiro tomei um susto quando meu cachorro fez um barulho ao pular em cima da casinha.

Virei para verificar o porquê do estardalhaço do meu cachorro e ele vinha em minha direção como quem tem um brinquedo na boca para me dar. Olho, e muito assustada, vejo uma ave enorme se debatendo dentro da boca do Zezinho. Confesso que não sabia o que era. Nunca tinha visto um bicho tão grande na vida. O grunhido que eu ouvia vinha dela. Ela se debatia com as asas e bicava meu cachorro, que assustado a soltou no chão. Gritei com ele para entrar no quarto e o tranquei para que não atacasse a ave novamente.


Olhava para aquela criaturinha no chão do meu quintal tão assustada quanto eu. Saquei o celular do bolso e tirei uma foto dela publicando imediatamente no facebook e pedindo ajuda para ver se alguém me dizia que tipo de ave era aquela. Em questão de segundos uma enxurrada de mensagens pipocou na minha tela dizendo que era um gavião carijó. Perguntei se sabiam como eu fazia para alguém vir resgatá-lo e me orientaram tentar o Corpo de Bombeiros.

Tentei ligar várias vezes para o telefone 193 e só chamava e ninguém atendia. Liguei para minha tia e pedi ajuda da minha mãe que voltou prontamente pra casa. Ela e meu tio olharam para a ave toda cheia de postura, como se posasse para uma foto, em pé da antiga antena da Sky (que até hoje não veio buscar) que está no quintal. Meu tio falou para continuar tentando os bombeiros, mas nada de conseguir. Foi quando tive a ideia de ligar para o 1746 da Prefeitura do Rio de Janeiro.

Ao escolher a opção 9 e explicar meu caso pra atendente, a mesma me direcionou para o setor de Resgate de Animais Silvestres da Prefeitura. Uma menina, muito educada, me atendeu, tentou me acalmar dizendo que a ave estava tão assustada quanto eu e se tinha algum abrigo, pois ia começar a chover. Anotou meu endereço e contatos telefônicos dizendo que o prazo de atendimento era de até 72h, mas que poderiam ligar a qualquer momento, pois conferem se o animal ainda está no local antes de ir.


Enquanto eu ficava ao telefone, minha mãe observava o que a ave fazia pelo quintal. Depois de um tempo alguns comentários na primeira foto publicada me sugeriram ligar para o 190 dizendo que eles têm uma polícia especial, a Polícia Florestal. Foi o que fiz. Liguei para a polícia e a educada atendente Ana Paula fez tudo o que pode para me ajudar. Tentou entrar em contato com os dois locais do Rio que tem a polícia especial (um fica em Seropédica e o outro em São Gonçalo – ambos fora da Cidade do Rio de Janeiro) sem sucesso. Os telefones só chamavam e ninguém atendia. Ela anotou meus contatos e endereço pedindo pra continuar tentando.

Durante minhas ligações entre Prefeitura, Polícia e bombeiros, a segunda foto publicada no facebook pipocava de comentários e compartilhamentos. Não conseguia ler todos os comentários em tempo real, tomar conta do cachorro (que já estava em pânico por estar preso), verificar o gavião e falar ao telefone ao mesmo tempo. E durante tudo isso rolando uma chuvarada desabava no Rio de Janeiro. Consegui enfrentar a chuva e pegar o notebook que estava no quarto e trouxe pra sala. Quando olhei para os comentários, vários protetores de animais estavam enviam mensagens privadas, telefones e fanpages para me ajudar a resgatar o gavião.

No meio de um monte de gente solidária, e que realmente estava tentando me ajudar, apareceram alguns “protetores de sofá”, que além de achar que eu deveria tentar capturar a ave, me ofendiam em comentários sem sentido só porque eu demorei a responder os comentários. Nesse momento a ave já estava em pânico pulando de um lado pro outro no quintal, derrubando e quebrando coisas, meu cachorro chorava trancado no quarto, minha mãe passava mal de nervoso e eu já queria chorar.


Tentei novamente o 193 e fui finalmente atendida. A ligação caiu no batalhão do Centro da Cidade. Expliquei o caso e disse meu bairro e o sargento que me atendeu disse que sentia muito, mas que somente o batalhão do Méier (bairro ao lado do meu) poderia me ajudar. Ainda continuou explicando que ele não tinha como transferir a ligação e que eu deveria tentar o 193 até que caísse a ligação lá. Fiquei chocada com tudo isso. Imaginei: e se fosse um incêndio? Ninguém ia me atender? A chuva caía forte... se fosse um desabamento? Ninguém iria me resgatar? É essa a cidade que vai sediar as Olimpíadas?

Teve uma pessoa que chegou a postar um comentário onde dizia que realizava o resgate do animal mediante um pagamento de R$ 200. Fiquei chocada quando li aquilo. Continue a responder as pessoas via inbox e ignorar os que exigiam que eu colocasse meu endereço em aberto nas redes sociais para qualquer um ler. Com a ajuda da Sharon Maliryn (uma protetora que viu meu pedido de socorro), entrei em contato com outro protetor, o Afonso Nelio, que faz resgates de aves de rapina aqui no Rio de Janeiro. Trocamos telefone e conversamos sobre o ocorrido.

Ele foi perguntando qual o estado da ave e me explicando que já estava escurecendo e elas não gostam de luz. Pediu que eu apagasse as luzes do quintal para acalmá-la. Após fazer isso, notei que ficou muito quieto. Passava meu endereço e celular pro Afonso quando minha mãe gritou que ela tinha sumido. Acendi a luz e fui em busca dela pelo quintal. Nada! A chuva não parava de cair e eu não encontrava o pequeno gavião.


Fiquei com medo de que ele tivesse ficado preso em algum canto qualquer. Peguei uma lanterna e fiquei procurando sem sucesso. Pensei: ele conseguiu voar e se foi. Nesse momento, quase 21h30, meu celular toca. Era a dona Solange do setor de Resgate de Animais Silvestres da Prefeitura. Expliquei tudo pra ela, inclusive que ela tinha sumido há poucos minutos. Ela me acalmou dizendo que isso era normal. Que animais selvagens nos surpreendem. Quando pensamos que eles estão muito feriados, estão apenas descansando para voltar para seu canto.

Ela ainda me explicou que por conta do susto com meu cachorro e a chuva, isso o deixou atordoado e por esse motivo demorou a alçar voo. Ela me passou o telefone direto deles e disse que o animal aparecendo ou não para retornar amanhã de manhã e falar com a dona Jane, que estará de plantão no setor. Mesmo que seja para dizer que a ave já foi e é apenas pra cancelar a solicitação de resgate. O Afonso fez o mesmo pedido, para ficar de olho caso ela volte e entrar em contato se necessário.

A chuva deu uma pausa por volta das 22h40 e voltei a procurar pelo gavião no quintal da frente e nos vizinhos, mas não achei. Temos muitas árvores frutíferas por aqui, não sei se ele conseguiu se esconder em alguma delas. Confesso que estou muito preocupada com a ave, afinal amo os animais e não gosto de ver nenhum ferido. Depois de procurar muito cheguei a conclusão de que ele se foi e só me resta torcer para que se recupere bem.


Voltei pra casa e soltei meu cachorro para fazer suas necessidades fisiológicas. Verifiquei se ele tinha algum ferimento da bicada da ave e olhei dentro da boca para ver se as garras dela não tinham machucado. Ele está bem, só assustado. Tomei um banho, jantei, coloquei comida pro cachorro e me deitei. Apesar de estar mega cansa, minha mente está em alerta de preocupação com o pequeno gavião. Espero que ele esteja bem. Está chovendo muito e não queria que ele caísse em outro quintal onde ninguém tentaria salvá-lo como eu fiz.

Poucas horas antes de ir dormir, o Eric Abreu, veio até mim no facebook se disponibilizando para vir amanhã de manhã procurá-lo pelo quintal do vizinho que é muito, muito grande e com muitas árvores e tentar resgatá-lo. Só me resta agora ir dormir e aguardar. E se tudo der certo, ele ficará bem e terá voltado pra sua família de gaviões onde será cuidado. Enquanto isso, eu rezo, de verdade, para que as pessoas não precisem dos socorros públicos, porque hoje eu descobri que não estão nem aí pra gente... Nem gente, nem bicho, nem nada!

Agradecimento especial a todos os protetores e pessoas em geral que comentaram nas fotos do facebook com dicas, apoio, telefones de ONGs e muito mais. Obrigada de verdade! Um muito obrigada para aqueles que vieram falar comigo via inbox: Yuri Domeniconi, Satine Brum, Lylian Campbell e Ro Calmon. Além, claro, da Sharon, Afonso e Eric.

Todas as fotos que tirei do gavião
estão no meu facebook => Um gavião no meu quintal




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