Depois do PANdemônio vem o Circo Olímpico

É todo mundo comemorando, pulando, festejando, farreando literalmente na praia em plena sexta-feira de trabalho por conta da escolha da cidade sede das Olimpíadas de 2016. Alguns irão querer me matar, mas não estou nem aí. Não fiquei feliz com a decisão, mesmo sendo carioca e ouvindo muitos dizerem que estou contra a evolução da minha cidade.

Balela pura! Na época do PAN aqui no Rio tudo virou um caos sem tamanho. Obras só foram realizadas em pontos estratégicos da cidade. O trânsito ficou pior do que já era, atravessas a Avenida Brasil em dia de competição na Vila Militar de Deodoro era o mesmo que correr em uma maratona.


Dizem que sou chata, e blá, blá, blá, não estou nem aí para o que pensam. Só a Barra da Tijuca recebeu obras, muito mal acabadas por sinal, um "conjunto habitacional" (melhor chamado assim) para ser posto os atletas vindos do mundo inteiro que ficou pronto praticamente no primeiro dia do evento. A maior parte das coisas ficaram em promessas, como tudo o que os nossos "bons" políticos fazem.

Segurança no Rio continua zero. Não vou dizer que a cidade é hiper-ultra-mega violenta, até porque nunca sofri nenhum tipo de violência direta sendo nascida e criada aqui, mas é só andarmos pelas principais ruas da cidade para ver que policiamento que é bom, só existe, e sempre só existiu, na zona sul carioca, e agora na "nova zona sul" carioca, a Barra. O resto da cidade é sempre esquecido, seja por conta de eventos internacionais ou não.

No Engenho de Dentro, bairro onde nasci e vivi até mais 23 anos foi construído um "elefante branco" (literalmente branco) chamado carinhosamente de Engenhão. O que eu acho simplesmente ridículo. Aquela estrutura fria de ferros retorcidos exorbitantes parece um obelisco sem noção, como as estátuas e obras sem motivos espalhadas pela zona sul do Rio.

Os bairros mais populosos da zona norte, zona oeste e baixada parecem que nunca fazem parte do mapa da dita cidade maravilhosa. Ultimamente o que mais, nós cariocas, vemos são reportagens atrás de reportagens sobre as empresas de ônibus urbanos de Campo Grande (onde eu moro) e adjacências, sendo multadas e fechadas por não cumprirem o mínimo que um usuário pede: segurança.

A cidade é repleta de ônibus velhos, caindo aos pedaços, trens lotados, metrô que só circula em 1/3 dos bairros. Hospitais públicos que não atendem ninguém por falta de médicos, enfermeiros, material e remédios. Inúmeros desempregados que não conseguem emprego porque moram distante dos principais pontos empresariais e que os empregadores não pagam mais de duas passagens por dia.

Agora quando vem esses eventos (como se já não bastasse o nosso Reveillon que não é mais nosso, é deles - dos gringos), como foi o caso do Pan, que recebeu reestruturação maquiada e quando o efeito boom passou tudo ficou pior do que estava antes. São ruas sujas, restos de obras inacabadas, escolas e hospitais caindo aos pedaços, segurança só nas áreas onde os figurões com dinheiro vivem... E o resto dos cariocas (aqueles mesmo resto que hoje não foi trabalhar para ficar pulando na praia) fica feliz por poder vender bebidas, petiscos e lembrancinhas como meros ambulantes pelas ruas.

Até quando o brasileiro vai continuar a se contentar com tão pouco? Fizeram bem os japoneses em Tóquio que se uniram e disseram: "NÃO! Não queremos esse circo em nossa cidade". Mas o povo brasileiro que adora uma farra... Ah... Adorou poder faltar um dia de trabalho, em uma cidade onde mais de metade tem trabalho informal ou nenhum, para bebemorar na praia de Copacabana porque o Brasil levou a vaga para sediar as Olimpíadas... Quero ver se vão dar emprego para esse povo festeiro todo?

Alô criança o circo chegou!