quinta-feira, junho 10, 2010

As incríveis conversas nos transportes públicos

Estreando meu novo teclado venho falar sobre impressões que tive hoje voltando para casa do trabalho. Sempre faço o mesmo caminho e pego duas conduções para isso, uma delas um transporte alternativo, como são chamadas as Kombis e Vans aqui no Rio. Comecei a perceber o quanto fazemos essas viagens todos os dias e nem percebemos em quanto conteúdo uma simples viagem para casa pode gerar.

Sentei no banco apertado da Van por volta das 22h40 e ela vinha tranquilamente pelo caminho quando primeiramente entrou duas moças, uma baixinha (que sentou ao meu lado) e uma bem gordinha que foi em pé (porque eu que sou a metade do tamanho nela – tanto pra cima quanto para os lados – mal cabia, imagine ela, que dava duas de mim). A moça baixinha, puxou conversa falando do aperto entre os bancos e o desconforto geral que os microônibus pela cidade estão gerando. E assim foi o papo até elas descerem pouco mais que uns seis pontos depois.

A viagem continuou e logo entrou um rapaz, com a mão enfaixada e sentou ao meu lado, próximo a janela (eu estava no corredor, já que os bancos apertados não deixavam minhas pernas compridas caberem). O cobrador da Van, que parecia conhecê-lo, começou a conversar com ele. O assunto foi luta. Isso mesmo, o cobrador faz jiu jitsu e o rapaz novinho, ao meu lado, já era instrutor. E o papo começou a rolar falando de golpes, nomes engraçados, braçadas, tapas, a quebra da mão dele, etc. E a viagem foi seguindo.

Ao mesmo tempo, no banco da frente ao lado do motorista, uma moça loira estava aos berros pelo rádio da Nextel com o namorado, que gritava do outro lado da linha que ela era mentirosa. Ups... Briga de casal em plena Van a distância! Ele alegava que ela estava mentindo para ele e que estava com 'alguém', e ela gritando dizendo que estava na Van a caminho de casa. Ele, do outro lado, continuava dizendo que não acreditava, pois 'não ouvia nenhum barulho'. Ela, aos berros, começou a pedir para o motorista e todos os passageiros  para começarem a gritarem para que a 'mala' (carinhosamente chamado o namorado por ela, rs) acreditasse no que ela dizia. Foi uma gargalhada geral! Que dava para ouvir da rua, e mesmo assim, o namorado ciumento não acreditava.

O lutador aprendiz e o instrutor ainda continuavam no papo falando de omoplatas, troca de faixa, graduações ,Vale-Tudo, etc, quando um casal fez sinal para subir. Perguntaram se a Van seguia para Campo Grande, e depois da afirmação do cobrador, ambos subiram. A menina, uma morena do tipo 'popozuda' do funk com jeans super apertado e mini-jaqueta (que mal esquentava o corpo da noite fria), ao lado, do que deu a se entender como 'namorado', um tipo nerd legal, com violão em punho e uma latinha de Antártica na outra. Ele, que subiu o degrau da Van aos tropeços (percebia-se que o coitadinho do ner não tá acostumado a beber), riu tão alto do seu 'quase tombo' que todos olharam para ele, inclusive a loira do banco da frente. Sentaram-se atrás de mim.


E as conversas paralelas continuaram, a loira com o namorado via rádio, o motorista conversando com o passageiro que está ao lado da loira, o cobrador e o instrutor de jiu jitsu... Quando foi complementada com o papo da popozuda e do nerd atrás de mim. Ela, que narrava estar fazendo faculdade de Enfermagem, e ele de informática, começaram a conversar alto sobre as provas que fizeram. Ele soltava aos risos (bem altos) que não entendi o que o professor quis dizer quando perguntou o que era um ASPI com 'i', sendo que ele (a anta nerd bêbada) afirmava só ter ouvido de ASP. Ela, por sua vez, narrava uma história de um cara que passou mal na rua quando ela, junto com as amigas enfermeiras passavam e pediram socorro, mas que ela não pode fazer nada dizendo que quem 'salva vidas são os médicos' e que ela era 'apenas' uma aprendiz de enfermagem e salvar vidas era muita responsabilidade.

Eu, rindo internamente, prestava atenção a tudo fingindo estar dormindo quando fui 'acordada' por outro passageiro que entrou com um aparelho de som (daqueles velhos, com caixas enormes!) dentro de uma sacola e jogou-a em cima do meu pé. Saltei os olhos e disse baixinho um 'ai', a criatura nem pedir desculpas, pediu. E aí começou a papear com o motorista perguntando por outro motorista que ele não via há tempos. Eu no meio da confusão da comunicação tentava filtrar os papos que começaram a ficar confusos e meu pensamento foi cortado pelo nerd bêbado (e burro, porque até eu que não faço Informática sei a diferença entre ASPI e ASP, rs) gritou 'Aqui!! Aqui motorista... É aqui que vou parar!!! Para! Para!', como se o coitado do motorista fosse adivinho.

O papo entre o cobrador e o lutador parou por conta da descida dos passageiros. Um silêncio se instaurou por quase cinco minutos e foi quebrado por um 'Porra' dito pelo motorista quando viu uma Blitz da polícia mais a frente e a Van dele ainda não estava com a documentação 'ok', pois comprou-a naquela tarde. Tive que rir. Passamos pela Blitz sem sermos incomodados, o lutador saltou uma esquina antes de mim, quando avisei ao motorista que ia saltar no 'Jamelão'. Isso mesmo a fruta. Um ponto de referência conhecido ali no bairro. O motorista quase passou direto, pois já estava conversando com outra moça que tinha entrado no ponto anterior. Desci e fui para casa rindo lembrando de quanta informação temos nessas viagens e nem percebemos.

Ah! E a moça loira com o namorado ciumento? Não esqueci não! Quando chegou no ponto em que ela desceu, a criatura ciumenta do namorado, não confiando na menina estava lá, em pé que nem um 'pastel', todo sem graça, pronto para dar um 'esporro' e começou a rir envergonhado quando percebeu que ela estava dizendo a verdade. Ai, ai... Coisa da vida de cada um. A rotina nossa de cada dia... Um viva para a complexidade da vida humana... Oh bichinho complicado de se entender...


3 comentários

Iúri disse...

Olá Ana,

Sensacional sua história! E é verdade mesmo, no transporte coletivo escutamos muitas histórias, umas engraçadas, outras nem tanto. Mas é um ótimo "laboratório" de estudo do ser humano.

Você destacou um ponto interessante, que observo a tempo: a "discrição" das pessoas que utilizam aparelhos Nextel. Parece que todos precisam saber o que está acontecendo, e geralmente é um papo totalmente sem noção.

Ótimo post!
Um abraço.

Unknown disse...

Tive que rir do seu texto.

Também passo muito tempo em ônibus, mas é raro eu parar para observar as pessoas a minha volta.

Geralmente eu durmo ou fico olhando pela janela pesando na vida; acho que estou deixando escapar um mundo de histórias...

Unknown disse...

É amigo Teilor (que honra vc aqui!!!), comece a prestar atenção. São tantos assuntos que até nos perdemos, rs.

Beijocas!

Ah e feliz dia dos namorados rs

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