Internet: a nova 'janela' para os fofoqueiros, intrigueiros e exibicionistas...

Estava pensando em escrever essa semana sobre o novo jornalismo e as confusões em torno de como a profissão está se deteriorando, porém, como meu amigo Antenor Thomé, fui tomada por assuntos diferenciados no dia a dia que me levaram engavetar o tema e retomar, quem sabe, depois. De antemão veio à tona babados, fofocas e intrigas que me fizeram pensar em como o mundo se modernizou, mas os seres humanos não.

Antigamente as conhecidas por 'fofoqueiras' das pequenas cidades ou bairros mais familiares (comumente chamadas de 'Fifis' por algumas pessoas) ficavam penduras em suas janelas o dia inteiro tomando conta da vida de todos que por ali passavam. Sabiam quem saía que horas para o trabalho, se ia sozinho ou voltava acompanhado, quem namorava quem, quem tinha ou não amantes, quem brigava com quem e por aí vai. A felicidade do dia para essas 'namoradeiras de janela' era descobrir uma 'notícia' para poder espalhar.

Lembro até da personagem que tinha na Praça É Nossa, a 'Vamércia' que ficava na janela tomando conta de todos e popularizou o jargão 'minha boca é um túmulo', interpretada pela saudosa Maria Teresa Fróes. Ela me lembrava da infância onde as vizinhas no meu antigo bairro adorava ficar nas janelas ou sentadas em sua porta em cadeiras de praia tomando conta da vida de todos. E quando não tinha uma 'verdade fofocasional' para contar inventavam sua própria versão dos 'fatos'. O verdadeiro 'quem conta um conto aumenta um ponto'.

Os anos se passaram e a tecnologia invadiu nossas vidas. A primeira grande mudança que lembro foi a chegada do controle remoto da televisão que contribuiu para o aumento de peso da população mundial (antigamente era poucas as pessoas acima do peso, hoje isso virou uma epidemia – 'bendito' controle remoto). Depois vieram os telefones móveis, que não eram nada confortáveis e práticos de se levar, em sua cola os primeiros microcomputadores até chegarmos nos dias atuais com smartphones, tablets, note e netbooks e todo tipo de parafernália que nos faz ficar mais tempo ON do que OFF line de nossas vidas do dia a dia.

E claro que isso modificou a forma de ser das pessoas. Tudo é mais rápido: informação, educação, preparação das atividades diárias, cobranças, pagamentos, exposição etc. E como a única coisa que não evoluiu junto com a tecnologia foi o ser humano e sua vontade de 'falar da vida dos outros', só adaptamos o formato de lidar com as 'novas versões dos fatos'. Ou seja, trocamos as janelas físicas das casas antigas pelos box de mensagens do twitter, facebook, orkut etc. Ou seja, transformamos a Internet em um grande janelão de fofoca, onde agora, não só as 'tias velhas' ficam 'penduradas' tomando conta, mas qualquer um pode (e quer) falar da vida dos outros.

Notando as diferenças entre as épocas o que percebo é que os homens (que antes se escondiam para fofocar) hoje se sentem mais livres para falar o que pensam e saem na frente como os 'fofoqueiros campeões' do mundo ON. E quando você pensa que quanto mais velha (como era antigamente) mais fofoqueira a pessoa será está enganado. O número de jovens entre 16 e 25 falando da vida alheia cresce a cada dia. Afinal esse 'mundo tecnológico' é um espaço onde eles são a maioria. E qual é o prato principal de seus temas? Falar mais dos mais velhos conectados. Claro, os anos mudaram, o foco do fofoqueiro também. Hoje os mais novos vão às forras e são eles fazendo o papel da 'tia velha' falando daqueles que um dia poderiam ter falado deles.

E o grande janelão não para só na fofoca. Existem os intrigueiros que tem o prazer de 'criar meias verdades' só para ver o circo pegar fogo entre os envolvidos. Os exibicionistas que fazem qualquer coisa para ser o número no destaque do dia. E por aí vai... Mas analisando bem, não é culpa dessas pessoas fazerem o que fazem, assim como não era culpa das 'tias velhas' ficarem tomando conta da vida dos outros. A culpa é nossa. Sim, daqueles que escutam a fofoca. Porque o fofoqueiro só consegue IBOPE porque tem uma audiência pronta para receber a informação. Ou seja, desde os tempo de nossas avós as 'janelas fofocasionais' fazem sucesso por os fofoqueiros de plantão sempre tiveram pessoas que gostam de ouvir o que eles tem a dizer.

Então resumindo... Mudaram os anos, mudaram as tecnologias, mudaram os fatos e até a faixa etária dos envolvidos, mas a fome de saber da vida dos outros não modificou em nada. Ou seja, os fofoqueiros, intrigueiros, exibicionistas sempre serão um prato cheio em qualquer janela que exista no mundo, seja ele ON ou OFF line, porque sempre existirá alguém quer vai querer saber 'a última do dia'...