terça-feira, junho 06, 2006

Trim, trim....



Quando eu tinha meus 18 anos uma força tomava conta de mim e eu nunca soube explicar exatamente o que estava se passando, mas se intensificou nesses últimos meses: meu instinto maternal anda me rasgando por dentro, implorando para que eu ignore qualquer bom senso prático e PROCRIE. Não posso ver um bebê que me torno de imediato uma pessoa retardada, com direito a "cuti-cutis" nas bochechas e olhares fixos de observação. É estranho isso, nossa incrível vontade biológica de permanecer. Por um lado, a razão que naquela época me fazia descartar essa possibilidade de adiá-la para alguns anos, pensando sempre que eu não tinha instabilidade financeira e não saberia dar conta do "uso do corpo" na minha atividade profissional, entre outros problemas que uma cabeça de menina não poderia suportar, acabei deixando meu sonho de lado.


Meu relógio biológico está cagando para o declínio do PIB brasileiro, para crise política, para minha vontade de realização profissional, de encontrar um trabalho, de terminar a faculdade, de pagar minhas contas ou qualquer outra coisa. Simplesmente não para de apitar dentro da minha cabeça. Uma tristeza sem fundamento. Aos meus 24 anos encontrei uma pessoa e pela primeira vez aquele desejo de só procriar juntou-se ao de unir-me a outro alguém, mas não foi o esperado. Por nenhum lado. Nem o emocional e nem o maternal. Fracasso atrás de fracasso. Ouvir de médicos que minha chance de conceber a vida seria mínima ou quem até nula fez-se um buraco, maior que o da camada de ozônio, se abrir aos meus pés. Novamente joguei sonhos para um lado qualquer e segui.

Meu relógio toca incansavelmente, simplesmente dizendo que tenho que ignorar tudo e todos e seguir com a grande função feminina no mundo, e a meu ver a mais bela, a de gerar frutos.

O relógio biológico costuma tocar inicialmente por volta dos 20 poucos, 30 anos da mulher. O meu desde cedo se mostrou presente. Mas nunca era o momento certo. E quando resolvi ouvi-lo pela primeira vez me foi tirado o sonho de uma forma tão drástica e revolucionária que quase acabei desistindo.

Não quero parceiros, não quero uma união estável, ou seja, como queiram chamar. Quero um filho. Um filho meu. E só.

Sabe quando você chega numa fase da vida e olha para trás e vê que não construiu nada ou o que construiu não tem nenhum sentido aparente? É assim que me sinto. Penso muitas vezes, pra que lutar? O que vou deixar? Pra quem deixar? O que deixar? Quem vai se importar com o que eu fizer? E eu mesma respondo: NINGUÉM. É triste saber essa resposta.

Amigas que cresceram comigo, inclusive aquelas que nunca desejaram ter um filho, e pelo contrário, odiavam crianças, hoje embalam seus filhos. E eu? Eu só olho...

Sinto que falta um pedaço de mim. Sinto que falta um impulso pelo qual continuar. Sei, sei já ouvi de diversas pessoas, e também concordo "filhos são para o mundo" , tá ok! Mas o meu mundo sem ter alguém que continue minha história é frustrante. Sabe o que é acordar e não vontade de ir atrás de um emprego, ou ir para seu trabalho, ou continuar tirando notas 10 seguidamente na faculdade... É assim que me sinto. Acordo e não sinto vontade de continuar. Não pensem que é desejo de suicídio. Não! Somente é um vazio, que antes estava sem explicação.

Vazio sem explicação, vontade de só dormir, não querer mais lutar por nada, não me esforçar mais na faculdade. Isto era só algumas das coisas pela qual estava passando nos últimos meses. Poxa, você esta depressiva! (uma amiga minha, falou). É ate pensei nisso também. Mas não era isso.

O fato é que olhei para trás. Completei 30 anos, não me casei (e nem quero!), não me formei, não tenho emprego, não sou perfeita e o pior não tive filhos. Quando olhava para trás via minhas amigas com suas famílias, ou no mínimo seus filhos. Alguém para quem lutar. Mesmo sabendo que depois eles serão parte do mundo. Mas sabemos que os filhos dão o impulso na vida da qualquer mulher. Você acorda feliz, você acorda querendo realizar sonhos e desejos, porque você sabe que tem alguém que ira contar com você por longos anos ate aprender a andar com as próprias pernas. Mesmo quando crescem e nos fazem chorar, poderemos olhar para trás e dizer eu fiz tudo e todo possível por aquela coisinha que saiu de mim e hoje esta grande saudável e com sua própria vida dando a continua do mundo.

Mas eu, eu olhava para trás e nada. Ninguém.

Voltei ao medico e tive a reafirmação das dificuldades. Que seria algo doloroso, penoso, choroso... Não me importei. Tocou gente! Tocou! Não posso simplesmente virar pro lado e fingir que não ouvi. Toca aqui dentro da cabeça. A idade ideal de a mulher ser mãe sempre foi discutível. Pode dar certo aos 20, 30, 40... Não importa. A hora certa é quando o relógio toca. Antes disso nos tornamos perdida e depois disso não temos mais o mesmo empenho. A hora certa quando chega, chega e pronto.

Adotar? Pensei varias vezes. Mas existem, infelizmente em nosso país, muitos empecilhos, um deles é o fato de ser solteira. Mas não é isso. Quero um filho meu. De dentro de mim. Um pedaço de mim. Não quero marido, namorado, amante, nada disso. Quero um filho.

Sei que nesse meu caminho de busca irei magoar muitas pessoas. Mas chegou a hora de pensar em mim. No que eu quero, no que eu desejo, no que eu preciso. E agora eu preciso ser mãe. Custe o que custar. Goste ou não quem for. Sei que não será fácil. Sei que não é como quando eu brincava de boneca. É uma vida. Uma nova vida. E por longos anos será de minha responsabilidade. Mas é justamente isso que tem faltado em minha vida. Falta justamente a responsabilidade que me obriga ir para frente, a lutar por minha carreira, a acordar todos os dias e continuar batalhando para trazer dinheiro para casa, a rir, a chorar, a ter raiva, a concordar, a discordar...

Meu relógio tocou. E hoje entendo tudo o que minha avó dizia: "o mundo se resume em antes de ser mãe e depois de ser..." Hoje entendo o que minha vó dizia... Mesmo sem tê-lo dentro de mim já me sinto no antes e depois. Pelo simples fato do relógio ter tocado. Não só minha mente, mas também meu coração.

Não posso mais esperar. Tocou. Ouvi. E agora vou tratar de cuidar dos preparativos antes que o relógio parar de vez.

(crônica de minha autoria - Ana Magal)

Seja o primeiro a comentar !!!

Postar um comentário

Leia as regras:
Os comentários deste blog são moderados.
Use sua conta do Google ou OpenID.

Não serão aprovados comentários:
* com ofensas, palavrões ou ameaças;
* que não sejam relacionados ao tema do post
* com pedidos de parceria;
* com excesso de miguxês CAIXA ALTA, mimimis ou erros grosseiros de ortografia;
* sem e-mails para resposta ou perfis desbloqueados;
* citar nome de terceiros em relação à apologias, crimes ou afirmações parecidas;
* com SPAM ou propaganda de blogs.

Importante:
* Diferença de opinião? Me envie um e-mail e vamos conversar educadamente.
* Parceria somente por e-mail.
* Dúvidas? consulte o Google!

Obrigada por sua visita e comentário. Volte sempre!
OBS: Os comentários dos leitores não refletem as opiniões do blog e de sua autora.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Este blog possui atualmente:
Comentários em Artigos!
Widget UsuárioCompulsivo
 
;