segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Você enxerga bem?

Atônita com os rumos que o mundo começa a tomar, eu relembrei do livro Ensaio sobre a Cegueira, do maravilhoso José Saramago. Quando li esse livro há uns três anos atrás, levei um tempo para absorver o que ele gostaria de dizer. Somente depois de cruzar com alguns amigos e conversarmos sobre os problemas pessoais de cada um que acabei entendendo o que se passou na cabeça de Saramago.

Esse ano aluguei, mais precisamente há duas semanas, o filme de Fernando Meirelles, homônimo do original português. Não posso dizer que desgostei, ou gostei. Só posso dizer que em alguns momentos consegui ver na tela o que eu consegui enxergar ao ler o livro. Confesso, gostei mais dos bastidores do filme, do que dele em si.

No livro, Saramago relata uma cegueira sem sentido, que aparece do nada em um motorista em plena luz do dia e que acaba sendo epidêmica. Essa cegueira, diferente da normal, envolve cada pessoa numa visão branca, citada por ele no livro como "mar de leite". No filme esse ponto foi brilhantemente mostrado com cenas editadas em projeções feitas com vidro, reflexo e literalmente uma tigela de leite.

Essa epidemia assola praticamente toda a humanidade, sendo que somente uma pessoa continua tendo visão normal, mostrando-se ser imune a doença misteriosa. No fundo é um paradoxo da nossa atual realidade. Hoje nos preocupamos tanto com nossa própria vida que esquecemos que vivemos em uma sociedade e que por si só o ser humano é um ser social e não vive sozinho. Com tantos problemas acabamos nos isolando das pessoas e tentamos ser auto-suficiente, e nem sempre obtemos sucesso, mas no primeiro sinal fraqueza, podemos ver o quanto somos frágeis e submissos.

No filme, Meirelles mostrou com cenas fortes o quanto somos necessários uns aos outros. Nos bastidores, vemos os atores falando que quando fizeram o laboratório utilizando vendas para simular a cegueira, os primeiros movimentos são os que habitualmente fazemos tentando ser suficientemente perfeitos sozinho. O que não ocorre. Ao notarem que para atravessar uma rua necessitam se guiar por paredes, objetos e pessoas, automaticamente eles dão-se as mãos e ajudam-se.

Acho que esse ponto é justamente o que Saramago quis mostrar a todos. Pelo menos ao meu ver, foi o que me tocou. Ficamos tanto tempo tentando mostrar para todos que não precisamos de nada nem ninguém. Que tudo que fazemos é melhor e mais importante do que o outro faz. Com isso acabamos vivendo num mundo de cegueira inconsciente. Não conseguimos enxergar que nosso egoísmo e ansiedade acabam por destruir a nós mesmos. Acabamos com nosso Planeta. Proferimos guerras dentro de nossas casas e que acabam indo para fora delas, e ao longo dos anos o mundo foi se tornando no que é hoje. Um caos total onde não conseguimos mais pisar no freio.

Essa ideia genial de Saramago consegue nos fazer sofrer e analisar como estamos vivendo com o nosso próprio eu. Será que estamos prestando realmente atenção no que fazemos, no que falamos, a quem magoamos e a quem ajudamos?

Desde que li o livro, procuro analisar meus passos e pensamentos. Mudei muita coisa que fazia, não porque isso mudou minha vida, mas sim porque percebi que minha forma de pensar e agir estavam diferentes. Hoje, não fico em um emprego onde não me sinto bem só porque tenho obrigação de ficar. Não saio com amigos só por sair porque acham que ando muito dentro de casa. Não namoro quem as pessoas, principalmente amigos e familiares, acham que sejam certos, saio com quem gosto e me faz sentir-me bem. Não vou mudar o mundo, mas posso mudar a mim mesma. E acho que cada ser humano pode sair do mar de leite da cegueira universal e dar uma olhada para o lado. Sempre tem alguém que precisa de sua ajuda, de seu carinho ou de sua atenção, já repararam nisso?

Afinal o ditado popular realmente é certíssimo, e acho que é isso que Saramago quis mostrar em sua história. Pois o pior cego é aquele que não quer ver.

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