Rio de Janeiro, 18 de junho de 2009
"Ontem, quando soube da notícia sobre o fim da exigência do diploma em Jornalismo, senti um frio na boca do estômago. Sempre tive um posicionamento discreto (e até liberal, eu diria) em relação ao tema. No meu racionício existia a seguinte analogia: sou jornalista formada pela PUC-Rio, tenho Mestrado em Comunicação Social obtido na UERJ e sou professora de Jornalismo. Apesar da titulação que me credencia para ser pesquisadora e ministrar aulas, sempre senti um ligeiro desconforto com o fato de lecionar sem, no entanto, nunca ter me preparado academicamente para exercer tal função. Não tenho Licenciatura, não cursei Pedagogia, conheço Paulo Freire muito superficialmente e ignoro outras tantas linhas pedagógicas que seguramente devem ser estudadas nas faculdades de Educação. Apesar disto, a graduação em Jornalismo e a pós-graducação stricto sensu em Comunicação me autorizam a entrar em sala de aula e desempenhar o papel de educadora. Intimamente, sempre questionei isto, pois meu desempenho como professora construiu-se no instinto, na observação e no bom senso. Honestamente, estas não são ferramentas de trabalho. São, isto sim, atalhos. Por tudo isto, eu costumava pensar que talvez não fosse assim tão grave permitir a existência de jornalistas sem formação em Jornalismo, já que eu sou uma educadora sem formação em Educação.
Todo este meu ponto de vista foi radicalmente transformado ontem, quando eu soube da notícia. A informação foi um choque pra mim. E este choque não tem nada a ver com os discursos corporativos de profissionais que tentam proteger o diploma pela ameaça de perder seus empregos. Tenho medo disto também: medo de ter perdido meu tempo, meu dinheiro, minha saúde (física e mental) em um investimento acadêmico que, agora, não tem mais valor legal. Também tenho medo de não ser mais reconhecida no mercado de trabalho e de ver os cursos de Jornalismo implodirem. A consequência drástica disto será a implosão da minha vida profissional tal qual ela é hoje (tudo isto, é claro, está sendo visto aqui sob uma perspectiva sombria, alarmista e exagerada. Me conforta, por exemplo, saber que nossos colegas da Publicidade jamais precisaram de diploma para exercer suas funções profissionais e, apesar disto, as faculdades e o próprio mercado estão perpetuamente inchados).
Apesar das previsões nada animadoras para nossa "classe", "corporação" ou outro nome que queiram dar, meu medo não tem nada a ver com a perda do emprego ou com o possível declínio de alunos que pagam o meu salário. Tenho medo como cidadã. Antes de ser jornalista, professora, mestre em Comunicação e outros que tais, sou uma pessoa que vive em sociedade e que, por isso, precisa consumir informação para manter-se ativa e correta nas trocas da vida em coletividade. Talvez meu medo seja infundado, baseado apenas no susto inicial de ver esta função ser exercitada de modo inconsequente e impensado. Informar corretamente, eticamente, criticamente é uma tarefa árdua, arriscada e cheia de armadilhas. Tal tarefa requer responsabilidade, maturidade e critério. Tenho medo que, por tudo isto, quatro anos façam diferença sim.
Tenho muito mais a dizer, mas ainda estou confusa e tentando colocar as ideias em ordem. Foi só um desabafo e uma necessidade de dividir com vocês, colegas / futuros colegas de profissão, minha angústia e meu desconforto."
Escrito por Vany Paiva em seu perfil no orkut, minha querida ex-professora de Introdução a Jornalismo da Universidade Moacyr Sreder Bastos, no bairro de Campo Grande, no Rio de Janeiro.
Este texto foi escrito por uma mulher incrível que me ensinou tanta coisa nos primeiros períodos da universidade. Não estudo mais naquela instituição. Sinto saudade dos professores, amigos e amores que deixei para trás. Mas foram bons anos, onde aprendi e cresci como pessoa e como profissional.
Passada toda essa euforia, crítica e reclamações a parte em relação a revogação da obrigatoriedade do diploma, hoje acontece de me deparar com esse desabafo de uma pessoa maravilhosa, que me ensinou muito e aturou muito asneira de muita gente que sei que não serão tão bons profissionais quanto ela.
A você Vany... E a todos os professores da MSB (Café, Rodrigo, Jean, Clayton, etc) o meu muito obrigada por me fazer ter mais certeza ainda do que quero para meu futuro. E aos meus novos professores da Castelo Branco, um obrigada especial por fazer cada dia de aula mais especial que outro e nos preparar para enfrentarmos a vida profissional, com ou sem a exigência do diploma.
Obs: Capa meramente ilustrativa. Capa do livro de Lia Habib: Jornalismo: Profissão Mulher.
"Ontem, quando soube da notícia sobre o fim da exigência do diploma em Jornalismo, senti um frio na boca do estômago. Sempre tive um posicionamento discreto (e até liberal, eu diria) em relação ao tema. No meu racionício existia a seguinte analogia: sou jornalista formada pela PUC-Rio, tenho Mestrado em Comunicação Social obtido na UERJ e sou professora de Jornalismo. Apesar da titulação que me credencia para ser pesquisadora e ministrar aulas, sempre senti um ligeiro desconforto com o fato de lecionar sem, no entanto, nunca ter me preparado academicamente para exercer tal função. Não tenho Licenciatura, não cursei Pedagogia, conheço Paulo Freire muito superficialmente e ignoro outras tantas linhas pedagógicas que seguramente devem ser estudadas nas faculdades de Educação. Apesar disto, a graduação em Jornalismo e a pós-graducação stricto sensu em Comunicação me autorizam a entrar em sala de aula e desempenhar o papel de educadora. Intimamente, sempre questionei isto, pois meu desempenho como professora construiu-se no instinto, na observação e no bom senso. Honestamente, estas não são ferramentas de trabalho. São, isto sim, atalhos. Por tudo isto, eu costumava pensar que talvez não fosse assim tão grave permitir a existência de jornalistas sem formação em Jornalismo, já que eu sou uma educadora sem formação em Educação.
Todo este meu ponto de vista foi radicalmente transformado ontem, quando eu soube da notícia. A informação foi um choque pra mim. E este choque não tem nada a ver com os discursos corporativos de profissionais que tentam proteger o diploma pela ameaça de perder seus empregos. Tenho medo disto também: medo de ter perdido meu tempo, meu dinheiro, minha saúde (física e mental) em um investimento acadêmico que, agora, não tem mais valor legal. Também tenho medo de não ser mais reconhecida no mercado de trabalho e de ver os cursos de Jornalismo implodirem. A consequência drástica disto será a implosão da minha vida profissional tal qual ela é hoje (tudo isto, é claro, está sendo visto aqui sob uma perspectiva sombria, alarmista e exagerada. Me conforta, por exemplo, saber que nossos colegas da Publicidade jamais precisaram de diploma para exercer suas funções profissionais e, apesar disto, as faculdades e o próprio mercado estão perpetuamente inchados).
Apesar das previsões nada animadoras para nossa "classe", "corporação" ou outro nome que queiram dar, meu medo não tem nada a ver com a perda do emprego ou com o possível declínio de alunos que pagam o meu salário. Tenho medo como cidadã. Antes de ser jornalista, professora, mestre em Comunicação e outros que tais, sou uma pessoa que vive em sociedade e que, por isso, precisa consumir informação para manter-se ativa e correta nas trocas da vida em coletividade. Talvez meu medo seja infundado, baseado apenas no susto inicial de ver esta função ser exercitada de modo inconsequente e impensado. Informar corretamente, eticamente, criticamente é uma tarefa árdua, arriscada e cheia de armadilhas. Tal tarefa requer responsabilidade, maturidade e critério. Tenho medo que, por tudo isto, quatro anos façam diferença sim.
Tenho muito mais a dizer, mas ainda estou confusa e tentando colocar as ideias em ordem. Foi só um desabafo e uma necessidade de dividir com vocês, colegas / futuros colegas de profissão, minha angústia e meu desconforto."
Escrito por Vany Paiva em seu perfil no orkut, minha querida ex-professora de Introdução a Jornalismo da Universidade Moacyr Sreder Bastos, no bairro de Campo Grande, no Rio de Janeiro.
Este texto foi escrito por uma mulher incrível que me ensinou tanta coisa nos primeiros períodos da universidade. Não estudo mais naquela instituição. Sinto saudade dos professores, amigos e amores que deixei para trás. Mas foram bons anos, onde aprendi e cresci como pessoa e como profissional.
Passada toda essa euforia, crítica e reclamações a parte em relação a revogação da obrigatoriedade do diploma, hoje acontece de me deparar com esse desabafo de uma pessoa maravilhosa, que me ensinou muito e aturou muito asneira de muita gente que sei que não serão tão bons profissionais quanto ela.
A você Vany... E a todos os professores da MSB (Café, Rodrigo, Jean, Clayton, etc) o meu muito obrigada por me fazer ter mais certeza ainda do que quero para meu futuro. E aos meus novos professores da Castelo Branco, um obrigada especial por fazer cada dia de aula mais especial que outro e nos preparar para enfrentarmos a vida profissional, com ou sem a exigência do diploma.
Obs: Capa meramente ilustrativa. Capa do livro de Lia Habib: Jornalismo: Profissão Mulher.
3 comentários
Poxa, muito bacana o desabafo e a sinceridade dela. Tenho saudade de alguns professores até porque no mercado ... tsc tsc tsc Mas, comunicação sempre foi essa bagunça mesmo. Essa de mudar o mundo, de tudo perfeito é coisa de faculdade e só.
Fora isso, passo para votar no seu blog e tb dar-lhe um selo (nem imagino o quanto já tenha recebido. rs) para listar por aqui, caso haja interesse. Veja em http://portal80brasilia.blogspot.com/2009/08/que-selo-e-este.html
Oi amiga,
Olha que coisa legal!! A capa do livro que você usou no post é do livro "Jornalista: Profissão Mulher" da jornalista Lia Habib.
Esse livro foi um trabalho de Conclusão de Curso. A jornalista Lia Habib é minha grande amiga, fizemos faculdade e trabalhamos juntos. Fui um grande colaborador desse livro (tem até dedicatória pra mim). Fiquei feliz em ver a capa aqui no seu blog.
Bjos
Antena
www.muraldoantena.blogspot.com
Si amiga... depois passarei lá no seu blog para pegar o selo. Muito obrigada!
Anteninha... vc é 'the best' conhece as melhores pessoas do mundo. Quando eu crescer quero ser vc!!! Amo esse livro. Tenho paixão por ele. E claro, amo a Lia tb, rsss...
E como falei de mulheres jornalistas, nada melhor que colocar a capa deste livro maravilhoso.
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